André Cabette Fábio 22 Jun 2019 (atualizado 24/Jun 15h25) 

Representantes de cada uma das cinco letras da sigla respondem à pergunta sobre a importância do evento que reúne milhões de pessoas FOTO: PAULO WHITAKER/REUTERS PARADA LGBT DE SÃO PAULO, EM 2007   A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é o maior evento do tipo no mundo, reunindo milhões de pessoas nas ruas, promovendo shows e atraindo turistas de todo o Brasil. A edição de 23 de junho de 2019 foi a 23ª. Ela celebrou os 50 anos de um marco político para o movimento LGBTI e que foi um propulsor das paradas pelo mundo: a Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, em 1969. A parada paulistana de 2019 tem como slogan “50 anos de Stonewall - Nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT+”. O contexto da parada em 2019 O evento ocorre pouco mais de uma semana após o Supremo Tribunal Federal decidir que homofobia e transfobia devem ser enquadradas como crime de racismo no Brasil até que o Congresso legisle sobre o tema. Pela decisão, racismo deve ser entendido como uma construção histórica que busca justificar situações de desigualdade, dominação política e subjugação social de membros de grupos sociais vulneráveis. A LGBTIfobia se encaixa nessa descrição. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, e a pena vai de um a três anos de detenção e multa. A criminalização é uma reivindicação histórica do movimento LGBTI. Ela foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro, que ao longo de sua trajetória ganhou visibilidade ao se contrapor a políticas favoráveis a essa população. O presidente disse acreditar que, com a criminalização da homo e da transfobia, homossexuais poderiam ter mais dificuldade em conseguir emprego. Isso porque o patrão poderia ter receio de ser falsamente acusado de discriminação após uma demissão. A raiz histórica da parada LGBTI Na década de 1960, o Stonewall Inn era um bar controlado pela máfia em Nova York. Ele servia como uma espécie de refúgio boêmio para marginalizados. Entre eles, trans, lésbicas masculinizadas, homens afeminados, prostitutas e moradores de rua. No dia 28 de junho de 1969, nove policiais entrararam no local e prenderam funcionários que estavam vendendo álcool sem licença, agrediram clientes e esvaziaram o bar. Na época, havia leis proibindo o encorajamento a relações homossexuais. Além disso, pessoas que não estivessem utilizando ao menos três peças de roupa de acordo com seu gênero, podiam ser presas. Ações policiais como aquela em Stonewall eram comuns. Dessa vez, no entanto, pessoas do lado de fora do bar começaram a vaiar e gritar, enquanto os clientes eram conduzidos para o camburão de polícia. Garrafas e pedras foram atiradas contra os policiais, que se abrigaram dentro do próprio Stonewall, montaram uma barricada e pediram reforços, enquanto cerca de 400 pessoas se revoltavam do lado de fora. A multidão tentou incendiar o bar, mas reforços chegaram e o fogo foi contido. Os revoltosos se dispersaram naquele dia, mas agitações do lado de fora continuaram a ocorrer nos dias seguintes. A primeira parada do orgulho gay ocorreu um ano depois, em Nova York, no dia 27 de junho de 1970. Ela foi chamada de CSLD (sigla em inglês para Dia da Liberação de Christopher Street), em referência ao nome da rua em que o Stonewall Inn funciona até hoje. A parada tinha como mote comemorar o aniversário de um ano da Revolta de Stonewall, e reuniu cerca de 2.000 pessoas. Uma parada irmã ocorreu no dia 28 de junho daquele mesmo ano na cidade de Los Angeles. Com o tempo, marchas do tipo começaram a se propagar por outras cidades dos Estados Unidos e do mundo. Militantes lésbicas, bissexuais, trans, intersexuais, entre outros grupos que participavam, passaram a exigir que suas identidades fossem contempladas explicitamente nos eventos e, no decorrer dos anos, muitos deles passaram a se identificar como LGBT, LGBTI, LGBTQ, LGBTQIA+, entre outras variantes. As paradas LGBT no Brasil Em 1995, a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex realizou a sua 17ª conferência no Rio, que terminou com uma pequena marcha na praia de Copacabana. Em 27 de junho de 1996, um ato na praça Roosevelt, em São Paulo, reuniu cerca de 500 pessoas reivindicando direitos LGBT. Em um artigo sobre a parada paulistana publicado em 2011 na revista Gênero, ligada à Universidade Federal Fluminense, o pesquisador Ronaldo Trindade destaca que um dos incentivadores da primeira edição foi o jornalista Paulo Giacomini, que convocou homossexuais paulistanos para a parada em um artigo no jornal Folha de S. Paulo. O texto faz referência à Revolta de Stonewall de 1969, e conclama “vamos ferver no orgulho gay?”. No ano seguinte, grupos políticos que haviam participado do ato julgaram que seria mais conveniente realizar a próxima manifestação na Avenida Paulista. Ativistas ligados ao Grupo Corsa, ao Caheusp (Centro Acadêmico de Estudos Homoeróticos da USP) e outros pediram autorizações legais junto a órgãos públicos para realizar o ato. Mas a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) não permitiu. Mesmo assim, cinco grupos ocuparam a Avenida Paulista no Dia Internacional do Orgulho Gay, 28 de junho de 1997. Naquele mesmo ano, uma parada do Orgulho Gay ocorreu no Rio de Janeiro, em Copacabana, dando início à propagação de eventos do tipo em várias partes do país. Nos anos seguintes, a parada paulistana cresceu, e passou a atrair participantes de outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná. Em 1999, foi criada a Associação da Parada do Orgulho GLBT em São Paulo, atualmente nomeada Associação da Parada do Orgulho LGBT, que continua a gerir o evento. Em um artigo publicado naquele ano na revista Sui Generis e replicado no livro “Devassos no Paraíso”, o escritor e militante LGBTI João Silvério Trevisan relata como a parada de 1999 teve como diferencial o apoio maior e mais explícito de empresas e marcas, além de um público expressivo. “Numa cultura onde tudo passa pela estatística, reunir 20 mil pessoas é uma façanha respeitável. E aí está o grande sentido político da parada: a afirmação de que existimos, gostem ou não, e somos milhares. Vencemos o nosso pior inimigo, a invisibilidade, e afirmamos nossa existência (...) Políticos conservadores, religiosos fundamentalistas e homófobos em geral, que insultavam gente anônima, agora terão que se defrontar com uma multidão de homossexuais com rosto e identidade” João Silvério Trevistan Escritor e militante LGBTI, em artigo de 1999 para a revista Sui Generis Assim como ocorreu com outras paradas no mundo, os patrocínios que deram suporte à de São Paulo tanto contribuíram para que o evento ganhasse estrutura e visibilidade, como abriram um novo flanco de críticas, advindas de parte do próprio movimento LGBTI. Esse é um dos principais motivos pelos quais alguns coletivos criaram eventos alternativos. No dia 20 de junho de 2019 ocorreu em São Paulo a terceira edição da Parada Preta, ligada ao movimento LGBTI negro; em 21 de junho, a segunda edição da Marcha do Orgulho Trans; e, no dia 22 de junho, a 17ª edição da Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo.

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