Neste dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e
Caribenha, a Coalizão Negra por Direitos saúda as Mulheres Negras e reafirma
o compromisso de atuação publica na luta contra o racismo e o patriarcado, a
discriminação racial e de gênero, as LBTTQIA+fobias, o feminicídio, o genocídio,
as desigualdades e violências, conforme preconiza nossa Carta de Princípios.
Saudamos, também, nossas irmãs que vivem na diáspora e nos somamos na
grande marcha contra todas as formas de opressão e por uma sociedade justa,
plena e de direitos iguais.
No Brasil, somos 58 milhões de mulheres negras, urbanas, quilombolas e rurais
e nos reconhecemos como lésbicas, bissexuais, travestis, trans, não binárias,
intersexuais, cis e outras identidades de gênero, que criam e recriam estratégias
de sobrevivências num país estruturado com base no racismo, machismo,
sexismo, exploração e exclusão da maioria da população.
Somos mulheres negras orgulhosas de nossa ancestralidade, de nossas
tradições e valores civilizacionais africanos, cujo patrimônio é nossa referência
maior no enfrentamento da opressão desumanizadora a que estamos
submetidas.
Atualmente vivemos uma onda avassaladora de conservadorismo, perpetrada
por um governo extremista de direita, fundamentalista, nefasto, racista, sexista,
lesbotransfobico, que promove, com sua política de morte e de ódio, o
esgarçamento do tecido social, a retirada de direitos, o desmonte dos bens
públicos e das políticas sociais previstas constitucionalmente. Um governo que
alimenta o enriquecimento deslavado de uns poucos “empresários rurais e
urbanos”, com recursos proveniente dos fundos públicos, gerando fome,
aprofundando a pobreza e precarizando ainda mais gerando as condições
sociais da população em geral, com terríveis repercussões para as mulheres
negras, entre tantas outras formas de violência.
Diante dessa conjuntura de violência e exclusão, o vírus da COVID 19 encontrou
um solo fértil no Brasil, escorando-se nas negligências de um governo da morte,
que num processo negacionista determinou que a única política a ser adotada
seria a de contaminação de toda a população, provocando até o momento, a
morte de mais de meio milhão de pessoas, com grande número de vítimas na
população negra, deixando um rastro devastador na vida das mulheres negras
e de suas famílias.
Começa a ser desvendado pela CPI da Covid, no Senado Federal, o pano de
fundo desses desmandos na gestão da saúde pública, que revela gigantesco
processo de corrupção envolvendo a aquisição, e tentativas de aquisição, de
vacinas e insumos necessários para o enfrentamento da COVID-19, arrastando
políticos da base de apoio do governo e militares.
A vacinação, como já afirmamos em nota pública vem sendo executada a partir
de uma política elitista, de priorização de categorias funcionais de maioria de
pessoas brancas, em detrimento da maioria de população negra, que necessita
sair para o trabalho todos os dias, se expondo a inúmeros riscos.
Categorias
como as trabalhadoras domésticas, às quais aqui, rendemos nossas
homenagens e agradecimentos, por nossas vidas, dignidade e caminhada. Vale
lembrar que a primeira morte provocada pela Covid foi de uma trabalhadora
doméstica negra contaminada pela empregadora que havia voltado de viagem.
Os boletins de políticas sociais sobre igualdade de gênero e igualdade racial
recentemente publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicadas –
IPEA, revelam dados desoladores sobre o crescente empobrecimento e
desamparo das mulheres negras, resultado de uma política de reformas
macabras desregulamentadoras do trabalho e de cortes orçamentários vitais
para a população negra, com dano maior para as mulheres negras e seus filhos
e filhas.
Outras pesquisas apontam para o aumento do feminicídio, do lesbotranscídio,
da violência contra as mulheres negras, da agressão às religiões de matrizes
africanas, dos territórios quilombolas, da violação do meio ambiente, do
terrorismo do estado, que utiliza suas polícias nas comunidades, bairros e
favelas para aterrorizar, torturar e assassinar jovens e crianças em todos os
estados da federação, produzindo um devastação nos sentimentos das mulheres
negras e nas comunidades.
Apesar desse quadro, reafirmamos nossa convicção na vida, na esperança, na
luta, na mudança social, na derrota do racismo e todas as formas de barbárie.
Afirmamos nossa disposição de luta e combate a qualquer estratégia de
invisibilidade de nossa atuação.
Lutamos para construir uma sociedade onde a radicalidade dos princípios que
orientam o Bem Viver, que reivindica outro modelo econômico de sociedade e
possibilita nossa harmonia com a natureza e com o desenvolvimento de nossas
potencialidades, possam ser vitoriosos, conforme foi afirmado na Marcha das
Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver, em 2015.
Que a determinação e resistência de Tereza de Benguela, Líder do quilombo do
Quariterê, oriente sempre nossas lutas e ações na construção de uma sociedade
justa e sem racismo
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